terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Onde é que isto vai parar?

Antes de mais, desculpem a morbidez do tema. Mas acho que isto deixa qualquer um perplexo. As notícias dão-nos conta de 9 pessoas que morreram ao tentar imitar o enforcamento de Saddam, entre as quais 7 crianças, um jovem e um adulto. Incrível. Absurdo. Surreal. Como se explica isto? Custa entender e conceber tal ideia.

No caso das crianças, todos sabemos o quão influenciáveis elas são. Todos nós já ouvimos falar de crianças que se atiram dos prédios julgando ser o super-homem ou outro qualquer super herói com capacidades sobre-humanas. Mas este caso choca-me de uma forma diferente. O que se passará pela cabeça daquelas crianças? Imitam um herói ou um vilão? Será que tinham algum tipo de consciência ou noção do que aconteceu? Estas crianças tinham idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos. A maioria imitou o enforcamento entre amigos, ou entre irmãos. Brincadeiras que acabaram assim. Quem se condena agora?

Hoje assistimos a tanta violência gratuita que se torna banal ver um homem quase a ser enforcado em plena televisão nacional. As consequências não tardaram a chegar. Eu nem quis acreditar que tais imagem iam passar, mesmo que com má qualidade ou a não revelar tudo. Errado. Condendenável. E repito. Surreal.

Quanto aos casos do jovem e do adulto, é de ficar, uma vez mais, pasmado que nem um burro perante um palácio. Uma jovem de 15 anos enforcou-se "para sentir a mesma dor que Saddam". O adulto de 35 anos, uma cidadã da Argélia, disse ter ficado traumatizada com as imagens e decidiu lançar-se de um terceiro andar para acabar com o seu desgosto. Pergunto eu, como é que isto é possível?

Entre os 9 mortos, 3 eram da Argélia, 3 do Iamén e 1 do Paquistão. O que mais esta tirania fará ao povo que ali vive e que desde sempre contactou com esta realidade de conflito, de fanatismo?

Para mim, não há lógica que explique isto. Eu sei que a frase "o mundo está perdido" é recorrente. E todos sabemos que a violência assume muitas formas e o que o Ocidente também assiste diariamente a muitos delas. Mas acho que o mundo deles está bem mais perdido. À beira de não ter qualquer salvação.

3 comentários:

Daniela Rodrigues disse...

Acho que chegou a altura de pensar nos conteúdos que a televisão transmite.

Não podemos esquecer que estamos a falar de pessoas incultas, analfabetas, confrontadas com imagens que não são capazes de digerir.

E se das crianças já se espera, dos adultos não me surpreende num povo com uma cultura onde a morte é encarada como glória.

E para nós é tão fácil criticá-los...mas esquecemos a tortura em que vivem, a efemeridade das suas vidas.

Amanhã vem uma bomba que destrói as suas casas, mata as suas famílias ou os deixa sem uma perna ou um braço. Vivem na iminência da morte...talvez por isso a encarem com tanta naturalidade. E acredito que, muitas vezes, possa ser para eles um alívio. O fim de uma vida de dor, sofrimento e violência.

E o que é que nós (MUNDO) fazemos? Colaboramos para a destruição de nações inteiras, quer pelo fomento da guerra, quer pelo simples acto de mostrar a todo o mundo o enforcamento de um dos seus líderes históricos.

É este o mundo em que vivemos...com uns doidos desesperados a enforcarem-se sem motivo aparente, e outros tantos sádicos que se regozijam com imagens da morte.

Não era muito melhor quando todos víamos a Heidi?

RC disse...

Quando liguei a televisão depois de largas horas de sono para recuperar de uma noite bem passada, e vi o Saddam literalmente com a corda ao pescoço, senti-me a despertar de forma bruta e vioenta.

Não era o Saddam que estava a ver, mas um ser humano, como eu...ou pelo menos quase como eu... a segundos da morte. Não vi para além disso, não vi a justiça que alguns gostariam que tivesse visto. Só vi frieza, apatia, gelo.

Não fui só eu que tive acesso a essas imagens, e muitos dos que as viram acabaram por, como se sabe, não conseguir digeri-las.

Uma dessas crianças era americana. Morreu numa imitação da execução. E o que mais me surpreendeu ao ler a notícia desta morte, foi saber que nos Estados Unidos, as imagens passavam 12 vezes por hora.

SURREAL!!!

Mariana disse...

É realmente surreal...quando liguei a tv nesse dia e comecei a ver as imagens, nem queria acreditar que estavam mesmo a passa-las. E depois dizem que a culpa da violência entre os jovens são os filmes de ficção, com classificação M/16, que passam em horários restritos. A realidade é bem mais cruel, e aqui pelos vistos não existem constrangimentos éticos nem jurídicos quanto à exibição das imagens...12 vezes por hora RC?? Parece que se estão a aplicar as mesmas regras da publicidade na repetição dos anúncios, mas neste caso numa propaganda que nem se dá ao trabalho de ser camuflada como antigamente.