sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Porto de chegada


A vida tem coisas que nos fazem pensar. E não é pseudo-poesia, mas há momentos únicos, que acontecem uma vez e nos fazem perceber a importância de certas coisas...hoje tive um desses momentos.
Sempre soube que era uma bairrista incorrigível, uma apaixonada pela minha Terra e pelas minhas gentes, mas hoje tive oportunidade de o confirmar.

Chovia torrencialmente, venho há quase 1 hora a conduzir, o trânsito atormenta-me desde Espinho e não vejo a hora de chegar a casa e tirar os sapatos molhados.

Sexta-feira que dia tão mágico, extraordinária convenção da sociedade que nos dá dois dias de descanso. Sinto que vivo a semana à espera da Sexta-Feira, eu e mais o mundo inteiro, como se toda a Natureza unisse esforços para esse dia tão perfeito que é o Sábado.

Paro em cima da Ponte da Arrábida, o vento é tão forte que sinto o chão estremecer. A chuva cai implacável e levanta um fumo que me cansa a vista. Ao longe as luzes da minha cidade, e um cartaz que diz "Porto de Chegada".
Nessa altura sou invadida por uma sensação de bem-estar, um arrepio saboroso enquanto contemplo, deliciada, os contornos da minha terra. Afinal era verdade o que já dizia o Carlos Tê "é sempre a primeira vez cada regresso a casa".

Podemos sentir atracção por uma pessoa, por alimentos, por tanta coisa...mas por pedaços de Terra? Como é que um cantinho do Mundo consegue exercer tanta magia numa pessoa? Pior...um cantinho do Mundo do qual faço parte, que vejo todos os dias...e que é em tantas coisas igual a tantos outros...
Mas o que faz dela diferente é ser o meu lugar no mundo, a minha casa, que se mostra sempre linda a todos mas não se dá a qualquer um.

Embrenhada nesta sensação inexplicável prossigo o meu caminho mas, sem dúvida, foi um momento que fez o meu dia melhor.
O trânsito deixou de ter importância, as horas também, simplesmente por um motivo...eu já tinha chegado a casa.