Poderia ser mais uma notícia sobre um julgamento, mais um caso de sequestro. Mas é uma história diferente. É daquelas em que a lei dita uma pena, mas questionamo-nos se realmente foi feita justiça.
Um homem foi ontem condenado pelo tribunal de Torres Novas a 6 anos de prisão e a pagar uma indemnização de 30mil euros por se ter recusado a entregar uma criança de 4 anos, da qual era (ou tentava ser) pai adoptivo. A criança esteve a seu cargo, e da mulher, desde os 3 meses de idade.
O crime foi de "sequestro agravado". À primeira vista, parece sensato condenar alguém que comete este crime. Mas o caso aqui está longe de ser esse. Antes de avançar, convém então olhar um pouco mais atrás na história.
Um homem foi ontem condenado pelo tribunal de Torres Novas a 6 anos de prisão e a pagar uma indemnização de 30mil euros por se ter recusado a entregar uma criança de 4 anos, da qual era (ou tentava ser) pai adoptivo. A criança esteve a seu cargo, e da mulher, desde os 3 meses de idade.
O crime foi de "sequestro agravado". À primeira vista, parece sensato condenar alguém que comete este crime. Mas o caso aqui está longe de ser esse. Antes de avançar, convém então olhar um pouco mais atrás na história.
O bebé, hoje quase com 5 anos, nasceu de uma relação ocasional entre os pais biológicos. Na altura, o pai biológico recusou assumir responsabilidades, dizendo que desconfiava que o filho não era dele. A mãe biológica, imigrante e sem ter ninguém a quem recorrer, entregou o bebé a um casal, juntamente com uma declaração de consentimento para adopção plena. Este documento dava conta de dois factores: que o fazia por "insuficiência financeira" e que o pai era "incógnito".
Foi nestes termos que Luís Gomes e a mulher acolheram a bebé e deram início ao processo de adopção. Vieram entretanto a saber que o pai afinal não era incógnito e que reclamava agora os seus direitos paternais. O tribunal concedeu-os, mas os pais adoptivos não aceitaram entregar a criança. E, perante a lei, este casal passou de potenciais pais adoptivos a alegados raptores. A mãe e a criança estão até hoje em parte incerta. O pai aguardou na prisão.
O caso foi ontem encerrado com a condenação de Luís Gomes, sargento de profissão. A mãe continua desaparecida e será julgada assim que seja conhecido o seu paradeiro. A menina, quando encontrada, será entregue ao pai biológico, um pai que nunca conheceu.
Agora pergunto, será que a lei tem em consideração os afectos, a relação desta criança com estas pessoas que, no verdadeiro sentido da palavra, são pais dela? Foram estas as pessoas que lhe deram um lar, cuidados e o amor de uma família. Mas a lei preferiu entregar criança a um pai que ela não conhece, nunca viu e que a recusou. Será justo atribuir tanta importância à questão biológica, nestes casos? Faz algum sentido ser esse o factor decisivo?
Foi nestes termos que Luís Gomes e a mulher acolheram a bebé e deram início ao processo de adopção. Vieram entretanto a saber que o pai afinal não era incógnito e que reclamava agora os seus direitos paternais. O tribunal concedeu-os, mas os pais adoptivos não aceitaram entregar a criança. E, perante a lei, este casal passou de potenciais pais adoptivos a alegados raptores. A mãe e a criança estão até hoje em parte incerta. O pai aguardou na prisão.
O caso foi ontem encerrado com a condenação de Luís Gomes, sargento de profissão. A mãe continua desaparecida e será julgada assim que seja conhecido o seu paradeiro. A menina, quando encontrada, será entregue ao pai biológico, um pai que nunca conheceu.
Agora pergunto, será que a lei tem em consideração os afectos, a relação desta criança com estas pessoas que, no verdadeiro sentido da palavra, são pais dela? Foram estas as pessoas que lhe deram um lar, cuidados e o amor de uma família. Mas a lei preferiu entregar criança a um pai que ela não conhece, nunca viu e que a recusou. Será justo atribuir tanta importância à questão biológica, nestes casos? Faz algum sentido ser esse o factor decisivo?
Não defendo necessariamente a atitude dos pais adoptivos, que foram contra a lei. Mas entendo que, no fundo, tiveram que o fazer. O púnivel aqui devia ser esta lei funcionar assim, mais do que alguém a corromper. Uma lei destas, que destrói famílias e que nem sequer considera o bem-estar das crianças, é, à falta de melhor palavra, cruel. Realmente não se compreende como um juíz fica de consciência tranquila ao pôr um homem atrás das grades por 6 anos, quando a motivação de tudo isto está no amor que ele tem pela menina.
Como se isto não bastasse, veio-se a saber que esta acusação pode ser ilegítima e que pode não haver fundamento para o processo de "sequestro agravado". Em suma, não posso deixar de acusar a lei de, por vezes, ser fria e calculista e nem sempre ver com clareza. A fotografia que vi de Luís Gomes no jornal de hoje, algemado e com dois polícias a seu lado, não pareceu mentir. Era o rosto de um pai que acabara de perder um filho.
3 comentários:
Gostava que o pai biológico tivesse pensado nisso quando a criança nasceu.
Quem devolve aquela família os anos perdidos a amar e educar o filho de um homem que anos mais tarde vem reclamar o que é "seu"?
Sou completamente contra estas situações até porque para mim mãe não é quem pare, é quem cria.
O problema é que, neste caso, o Pai adoptivo teve que ir contra a lei. Como eu faria, se fosse comigo. Por imperativo de consciencia e sentido de dever.
Como eu, muitos Portugueses pensam que o mal maior que temos em Portugal é uma justiça lenta, "injusta" e autista, uns juízes incapazes de pensar por si e sem experiencia da vida, umas sentenças incompreensiveis para o senso-comum, uns sindicatos de juízes (só por si, um facto revelador) mais interessados em defender inacreditáveis mordomias (como aquela dos subsidios de renda que se outorgam e que não têm paralelo na sociedade) e vencimentos, do que em reformar e melhorar a justiça em Portugal.
Este é um caso exemplar e pode ser que sirva de alguma coisa - acusar aquele Pai de sequestro é só por si um abuso, ignorante, maldoso e deformado. E considerar agravante o ele ser militar, só mostra que certos principios (honra, integridade, espirito de sacrificio, dádiva da própria vida, etc), que não sendo unicos dos militares são contudo apanágio dessa classe, passa ao lado da compreensão dos juízes portugueses.
Condená-lo a 6 anos e a uma indemnização inacreditável a um tipo que depois de uma cambalhota nunca mais quis saber da rapariga e da filha, é execrável (lembra-se de uma fulana que raptou um bébé de um hospital? Essa apanhou 3 anos! É que, coitadinha, o tribunal decidiu que ela na altura estava muito traumatizada...).
Mas a minha esperança é que desta vez os Portugueses se revoltem, façam abaixo-assinados, criem fundos para apoio àquele Pai, exijam a intervenção do Parlamento, do Presidente, do Supremo, digam basta!
Eu por mim estou disponível, inclusivé para apoiar financeiramente, dentro das minhas posses. É que acho que as pessoas bem formadas (como me considero) desta vez não devem calar-se.
Não basta haver leis (e todos sabemos as multiplas interpretações, não é por isso que existem advogados?), é necessário é que da sua aplicação resulte Justiça!
Mais um caso que envergonha Portugal!!! Como é que é possível?!?!?!?!?
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