Sentido - Direction: Estádio do Dragão

Acordo tão cedo que já nem me lembro da última vez que madruguei assim… Opto por pedir boleia em vez da tradicional escolha do comboio, para ver se chegava a horas, mas o trânsito está tão infernal que parece o Via Rápida numa sexta-feira noite da mulher…
Mudança de planos à força, o melhor é mesmo ir de metro. É incrível a quantidade de coisas que perdemos quando não usamos os transportes públicos.
Casa cheia, mas lá consegui um lugar daqueles que não se devem usar à hora de ponta e é ai que, de “Metro” na mão, e olhar ensonado, vou espreitando para ver o que me rodeia.
À minha esquerda uma mulher de óculos, que podia muito bem se uma freira ou uma auxiliar de educação de qualquer escola do país, á a primeira música da manhã.. Música de Inverno, a bem dizer. Entre batidas de tossidelas e fungadelas, lá vai lendo o seu livro em francês quase em voz alta, como quem reza um terço numa qualquer capelinha.
À minha direita, um pré-adolescente comichoso de acne, trinca demoradamente o pão barrado pela mãe às primeiras horas do dia e consegue espantar-me quando, num acto de rebeldia próprio de quem tem pressa de ter pêlos no lugar das borbulhas, abre um livro de Isabel Allende, para ler não mais do que três páginas…
Nova fornada na Casa da Música e vejo uma daquelas figuras dois em um. De costas, uma mãe natal de casaco impermeável vermelho à boa maneira dos modernos anos 80. De frente uma criança de olho pintado de negro, como se a chuva lhe borratasse o espírito…
E é nestas alturas que penso… cada carruagem é mesmo um símbolo da caixinha de surpresas que é o mundo, cheio de diferenças nas suas semelhanças. E o que será que pensam de em mim quando passo? Será que me vêm sequer?
Vale a pena perder este tempo para ganhá-lo depois…

Sentido – Direction: Estádio do Dragão…