quarta-feira, 14 de março de 2007

"O que é que sente?"

"O que é que sente?" A dita pergunta proíbida para todo o jornalista que se preze. Mas será mesmo assim?
Li um artigo cheio de razão. Se tiverem dois minutos leiam em:

http://sic.sapo.pt/online/noticias/opiniao/20070308+-+O+que+e+que+sente.htm

3 comentários:

Diana Silva disse...

Concordo em parte. Nos primeiros dois exemplos, a pergunta parece-me pertinente e útil, de facto. Já no caso de Entre-os-Rios (e seus semelhantes) estar a colocar essa pergunta é pensar apenas no interesse da notícia.

Tem toda a razão ao afirmar que depende da resposta. Mas numa situação como a acima mencionada, parece-me que a preocupação com o headline do dia seguinte é muito menos relevante do que estar a calcar a dor das pessoas que estão a viver a tragédia.

Quem é que perante a morte de um filho responde à pergunta "O que sente?" coisas como "Impotente perante a Natureza" ou "Zangado com o Estado"? (quando muito diria-o de uma forma censurada pela televisão)

Não sei, acho que há circunstâncias e circunstâncias, mas nestas últimas colocar essa pergunta serve apenas o interesse egoísta do jornalista em dar a notícia. Quem está em casa imagina perfeitamente o que aquelas pessoas estão a sentir, e acho que isso é o suficiente.

Daniela Rodrigues disse...

DS não podia estar mais de acordo contigo. Sem querer criticar o Pedro Cruz, a verdade é que as respostas dependem sempre das perguntas. Logo, é um risco que se corre...tudo bem que a resposta pode dar um bom headline no dia seguinte, mas também pode não dar e entretanto ficou-se mal na fotografia.

No caso Entre os Rios não consigo conceber que em algum momento a questão seja colocada a um familiar de uma vítimas. Ninguém vai responder "A culpa é do Governo", jamais! E o Pedro Cruz certamente não o faria também se fosse ele o parente de uma vítima.
Um bom headline? A que preço?

Para tudo temos que ser racionais. Não podemos criticar um jornalista que pergunta ao Cavaco como se sente depois de ser eleito presidente. Até fica bem. As circunstâncias são diferentes.

Agora uma mulher que perde um filho "Como se sente?" Não cabe na cabeça de ninguém.
Para mim isso é espremer o sofrimento humano, numa palavra: SENSASIONALISMO.

Cris disse...

Não discordo de todo com o que foi dito aqui em relação a esse caso de Entre-os-Rios. A minha sugestão quanto a este artigo tinha apenas a intenção de demonstar que nem sempre a pergunta "o que é que sente" é descabída. Generalizou-se, desde o caso Entre-os-Rios, que era uma pergunta proíbida e que - passo a expressão da DR - o jornalista "ficava mal na fotografia" quando a usasse. Era a esse ponto que queria chegar. Há contextos e contexos. Concordo que, de facto, a resposta de um familiar das vitimas à referida pergunta dificilmente poderia ter algum conteúdo. Eu não a faria. Mas o artigo está bom porque refere exactamente contextos em que a pergunta "como é que se sente" não é so justificada como é mesmo "a" pergunta a fazer.