segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

"SIM"

Muito se discutiu a questão do referendo aqui no blog. Hoje olhámos os resultados.

O SIM venceu com 59,25% dos votos, mas a abstenção mais uma vez marcou destaque, ao chegar aos 56,39%, o que torna este referendo não vinculativo. O NÃO conseguiu juntar 40,75% dos votos. Trocado por outros números, o SIM cresceu um milhão de votos em relação a 1998, o NÃO apenas subiu 200 mil.

Apesar da abstenção ter sido forte, desceu 11% em comparação a 1998 e isso fez a diferença. O SIM cresceu em muitos concelhos, mas os distritos de Castelo Branco e Leiria foram os pontos de viragem. Em 1998 nestes distritos venceu o NÃO, em 2007 a maioria votou SIM.

Olhando o mapa de Portugal, à primeira vista, traça-se desde logo clara distinção entre Norte e ilhas e o Sul do país. No Norte apenas o distrito do Porto contribuiu para o SIM. De resto, todos os distritos Norte e Interior - Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Aveiro, Viseu e Guarda - deram preferência ao NÃO. Nos arquipélagos da Madeira e Açores o mesmo cenário. De Coimbra para Sul todos preferiram a despenalização do aborto, sendo que o concelho de Aljustrel, em Beja, foi o líder nacional, com 90,41% de votos para o SIM. Um raio x à mentalidade dos portugueses mostra-nos, numa primeira análise, um Norte mais conservador e um Sul mais liberal.

No fim e feitas as contas, o SIM venceu e, apesar do referendo não ser vinculativo, a Assembleia da República adquiriu assim um voto de confiança para a despenalização do aborto até às dez semanas, defendida por toda a Esquerda. Cabe agora ao Governo a regulamentação da lei. O processo legislativo estará, em sede parlamentar, concluído até ao final desta sessão legislativa, em Julho. A intervenção regulamentadora do Governo deverá ocorrer numa fase posterior, até ao final do ano.

10 comentários:

EA disse...

deixa-me discordar com a do "conservador" e "liberal"..se calhar é esse tipo de conotação que tem influenciado paralelamente tantas opções pelo sim...tal como "católico" "não católico" ou "esquerda" e "direita"..nao concordo com nada disso e aliás era esta ligação que me fazia ser do sim..criou-se a ideia que ser do sim era moderno, era jovem era liberal, era ser de esquerda e ser do séc. XXI..eu sou de esquerda, sou liberal e feminista convicta..contudo não acho mesmo nada como ouvi ontem que era uma vitória das mulheres, como que se do 25 de abril feminino se tratasse...acho que foi mais uma perda dos bébes, que vão ficar pelo caminho, porque verdadeiramente so eles tinham a perder nesta situação..a única coisa que as mulheres tinham a perder era a sua liberdade...e qt à justiça dessa condenação já dei a minha opinião..tenho a dizer que estou triste e que ainda mais triste fiquei de saber que, ao contrário de todas vocês, todos os movimentos do sim se congratulavam com a opção da mulher, com a liberdade de escolha...enfim...desculpem mas isto repugna-me..antes se ficassem pelo ícone da saúde pública e da diminuição dos abortos(que não é verdade que tenham diminuido nos países da europa..so em alguns, e confiando na seriedade dos números apontados como indicadores de abortos clandestinos...isto sem falar nos aborotos pos 10 semanas)..a decisão foi tomada...bem mais claramente que em 1998,o que por si só exige que de facto se faça alguma coisa...
agora deixo a questão...fecham-se tantas maternidades, reduz-se os serviços públicos hopitalares e avi-se investir agora em abortos?em março vai ser implantada a primeira clínica espanhola privada de abortos...450 euros é a média, que varia com o tempo de gestação...aposto que por esse preço o aconselhamento para impedir a mulher de cometer essa barbaridade irá ser empenhadíssimo...tenho é muita pena dos numeros de abstençao...quando sondaram os portugueses em relação à realização de um referendo, 98% se não me engano estavam de acorod...so 44% foram votar..democracia tenrinha a nossa...

Diana Silva disse...

Mais uma vez, em relação a muitos dos argumentos apresentados, aconselho vivamente a leitura do artigo da revista "Sábado".

Quanto ao resto, o que me revoltou nos resultados deste referendo foi a tacanhez deste povo que, quando lhe é dada a oportunidade de agir directamente sobre o que passa no seu país, prefere o conforto do sofá e o comodismo da indecisão.

Mais do que tudo o resto, é verdadeiramente vergonhoso a enorme taxa de abstenção que, embora mais reduzida do que no referendo passado, não deixa de ser uma prova de como este povo é passivo e ignorante impede a construção de uma democracia resistente.

Em relação à vitória do SIM, tenho esperança que as prometidas (por ambos lados) mobilizações para diminuir o problema do aborto sejam levadas para a frente. De qualquer forma, era a única resposta que poderia trazer a mudança.

Cris disse...

Em relação à questão do SIM liberal e do NÃO conservador, EA não estou a dizer que tens que te identificar com isso. São apenas generalizações. E justificadas. Senão, como explicas que um Norte tradicionalmente mais fechado à mudança, mais católico e mais conservador tenha apresentado estes valores no referendo? E que os arquipélagos, que estão sob um mandato do PSD e, no caso da Madeira, do muito querido e influente Alberto João Jardim, também tenham votado um NÂO tão claro?
Por outro lado, temos um Sul marcadamente de esquerda e um concelho que registou o maior número de votos no SIM (Aljustrel, em Beja).

Não quero aqui lançar mais nenhuma questão, mas acho que se pode dizer que a despenalização do aborto é, por exemplo, condenada pela Igreja e pelos católicos mais convictos e que esses, geralmente, são pessoas mais conservadoras, que concordam inclusivamente com muitos outros princípios da Igreja, estes já desfasados dos tempos modernos. Isto apenas a título de exemplo. Bem sei que muitos NÃO não pensam assim. Lá está, estava apenas a traçar um panorama geral. E não inventei isso. Vem nos jornais.

Em suma, é apenas uma teoria. Estas votações têm sempre alguma direcção, não são votos aleatórios, desprovidos de contexto. Foi apenas a isso que me referi.

Em relação ao referendo, concordo com a DS. Somos um povo que nunca está bem com o que tem. Se o Govero aprovasse a lei sem a referendar era aí ver manifestações a torto e a direito. Quando podem escolher, optam por não votar. Enfim, não há justificação.

DS, se ainda tiveres a revista contigo gostava de ler esse artigo.

Daniela Rodrigues disse...

Bem...não vamos entrar aqui pelas contradições da Igreja pois nao? é que se vamos apresento já aqui uma lista que nunca mais acaba.

CF traçaste um panorama geral relativamente às tendências de voto que de facto traduz a realidade. Um Norte conservador, um Sul esquerdista, todos sabemos que os partidos e a Igreja sempre influenciaram as tendências de voto, sempre foi assim e seria demagogia pensar que este referendo fugiu à regra.

Não temos que nos identificar com os liberais ou os conservadores, ou os católicos, claro que não. Temos é que aceitar que esses grupos existem e têm muita influência nas tendências de voto.

Porque as pessoas não estão devidamente informadas, porque dá jeito acreditar no Louçã, ele até fala bem...ou porque o Marcelo até é professor e deve saber o que diz...ou porque o Padre da freguesia acha que o aborto é pecado.

O povo é tradicionalmente preguiçoso, não se informa, prefere deixar-se influenciar pelo que diz A, B, ou C...a prova disso foi o resultado desta votação.

Diana Silva disse...

Em primeiro lugar, os católicos têm tantos defeitos como as outras pessoas. Senão, dêem-me exemplos de defeitos exclusivos dos católicos. Ninguém se refere aqui às imposições da Igreja enquanto Instituição porque essa, como até a maioria dos católicos advoga, está em muitos aspectos longe do mundo.

Mas seguir à risca e sem excepções tudo o que a Igreja dita, não é ser católico, é ser quadrado. Sou uma pessoa, acima de tudo, e como tal tenho os meus valores, formados por influências diversas. Apenas acredito numa ideologia que defende determinados princípios.

Sou católica praticante e crente, e votei "SIM". Não me sinto incoerente nem tão pouco cúmplice de assassinas. Como expliquei em intervenções anteriores, sou contra o aborto porque, de facto, acredito que é impedir alguém de viver.

Mas não era isso que estava em discussão. E mesmo que fosse, uma coisa ninguém pode contrariar, tudo o que vai ser feito a partir daqui, não poderia ser feito se tivesse vencido o "NÃO". E só a esperança de algumas vidas poderem ser salvas, de mães e filhos, permitia que qualquer católico votasse SIM.

EA disse...

Ainda me vão ter de explicar porque é que permitir abortos vai reduzi-los...desculpem, mas sou muito céptica dessa realidade...para além de ser contra, hipoteticamnente,eu nunca faria se soubesse que corria perigos e faria se fosse de graça, no hospital aqui do lado...porque é que os outros pensam diferente?porque o proibido é o fruto mais apetecido?lolol...desabafo..não se chateeiem a responder...é uma pergunta retórica(senão caem mais mil comentários em cima!ou então deixa-.me adivinha?leio a revista sábado!;) brincadeirazinha!)e não me venham com a história do aconselhamento médico, porque não me parece eficaz e caso o sejam há sempre a alternativa das clínicas privadas!

EA disse...

ahhh deixem-me explicar uma coisa...para a pos-graduação temos que criar um blog e tem que aparecer o nosso nome!automaticamente mudou aqui!paciencia!é por pouco tempo!acho que a mm fez o mesmo!

Cris disse...

DR, não teria dito melhor!

Diana Silva disse...

pMinha querida EA, mais uma vez estás a partir do pressuposto que as mulheres, salvo uns parcos exemplos de privilegiadas com consciência, fazem abortos como que vai dançar ou beber um copo.

Como a CF disse antes e muito bem, não é por ser legal que as pessoas vão fazer mais IVG's. Quem era contra, continua a ser.

A brincar que o digas, de facto, se tivesses lido a revista "Sábado" (de tantas vezes que a mencionei, já merecia uma comissão), percebias que na maioria dos países em que a IVG foi despenalizada, o número diminuiu.

Porquê? Muito simples: com a despenalização criaram-se as desejadas redes de apoio e aconselhamento e investiu-se na fase preventiva.

As clínicas privadas vão sempre existir. Se as pessoas escolherem pagar 450euros só para não conhecerem as opções, prova que são as excepções que confirmam a regra(embora a directora tenha dito que as mulheres passavam por três profissionais antes de tomarem a decisão, mas aqui sou eu que não estou muito crente).

Desculpa ter comentado, mas não resisti. Mas prometo que é a última vez.

Mariana disse...

Em Espanha só 3% dos abortos se fazem no sistema de saúde público...e a média europeia é apenas ligeiramente superior. Não sei se viram, mas no outro dia fiquei supreendida de ver num debate da RTP discutir-se se as mulheres deviam ou não ter um perído de reflexão(de 3 dias)e aconselhamento antes de fazerem um aborto...os defensores do sim diziam que não, defendendo que a escolha que a escolha devia ser apenas baseada na consciência da mulher e isso iria impôr constransgimentos morais à mulher...é obvio que esse aconselhamento não iria ser feito por um defensor do não, por isso não percebo. Primeiro a mão, depois o braço...